A memória é uma
casa assombrada
Pretícia Jerônimo
"A alguns anos percebi que olhar para meu passado me causava arrepios, eu não entendia o porque. Afinal eu conquistei tanta coisa, olhando meu presente de sucesso e grandes conquistas … que medo é esse? de onde vem essa sensação de, é melhor não olhar pra trás.
E assim vim seguindo, pensando no futuro, quase nunca comemorando o presente, sempre em busca de mais, como se nenhuma conquista me bastasse, lá estava eu olhando para o próximo desafio.
Quando eu vi a chamada para participação do Afrotonizar Lab nas redes sociais, corri pra inscrever, pensei mais um território a botar os pés, afinal que futuros imagináveis serão esses a serem produzidos, se é futuro lá estava eu novamente.
Agradeci ser selecionada e então entrei de cabeça como constumo fazer, mergulhar em profundidade são palavras que me descrevem.
Eu nem imaginava que o meu futuro estava em olhar para o passado, em adentrar a minha própria casa chamada aqui de memória.
E então que percebi que a MEMÓRIA É UMA CASA ASSOMBRADA, e assim como num piscar de olhos essa série fotográfica que estava guardada revelou-se em minha retina.
A cada encontro eu me sentia mais fortalecida, conseguia abrir cada cômodo dessa memória. Era como se uma lanterna de luz negra me encorajasse a olhar, adentrar e tomar posse da minha própria casa.
Compreender o que o trauma foi provocado como um projeto, um projeto destinado aos meus ancestrais e a mim.
O desafio então era limpar, reorganizar e jogar fora tudo que não me pertence, mas que mim foi imposto.
E agora aqui estou Eu! Como a dona da casa, confiando na vida e sabendo que a cura é coletiva e presente. "